quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Soneto da Morte

Abraças-me, negra senhora
Única visão da última hora
Tomas-me em teus braços rígidos
Olhas-me com olhos severos

Tocas-me com as mãos gélidas
E o frio delas transpassa-me a espinha
Entranha-se em minha carne enrijecida
Atinge a minha alma enfraquecida

Tu, companheira da última hora
Tu, mística e temível senhora
Que não arrebatas com gracejos e beleza

Não ouso resistir ao destino irreversível
Contigo vou, barqueira exuberante da derradeira nau
E faço o trajeto oposto à vida, num utero escuro, porém maternal

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Se Tens Medo Como Eu

Tu, que tens medo de amar como eu
Tu, que caminhas perdido no breu
Sentes-te frágil e incapaz
Sentes-te só e sem alento

Segura as minhas mãos de menina
Tão frias, tão tímidas
Caminha comigo nessa mesma escuridão
Em que há muito tempo eu também estou perdida

E quando o medo for maior que a coragem
Eu te prometo apertar as mãos
E quando te entregares à desesperança
Eu te prometo o inocente riso da infância

E quando n'alguma pedra tropeçares
Estenderei meus braços para te levantar
E quando na escuridão já não enxergares
Eu te darei meus olhos, e poderás caminhar

E se o frio da insegurança te quiser abraçar
Terás o meu corpo, para que nele te aqueças
E se caminharmos juntos, anjo meu, tu verás
Que o medo é bem menor que a beleza de amar

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O Sol e a Lua

Estranhos desígnios tem o amor
Por vezes peralta como um menino
Liga dois destinos e dá-lhes dissabor
Depois tece beleza com o fio da dor

Quanta dor traz esse meu canto
E quanta beleza, quanto encanto
Quanta agonia e quanto pranto
Quanta harmonia e melodia

Pobre Lua no céu solitária
Já não tinha motivo pra brilhar
Sua cor tornara-se fosca
Seu brilho quase a se apagar

Pediu com tal doçura ao Universo
Que a livrasse da cruel solidão
E este encantara-se com seus versos
Atendera-a com total dedicação

Criou o Sol para que brilhasse
Enquanto a Lua estivesse a descansar
Dividiria com ela o imenso céu
Mas jamais viriam a se encontrar

Lua viu de longe o vivo brilho
Sua face encheu-se de alegria
As noites já não eram de tristeza
Nunca antes tivera tal beleza

A paixão pelo Astro Rei veio a brotar
E a dor novamente encheu a Lua
Lembrou-se de que nunca o ia encontrar
Lembrou-se de que não viria a ser sua

E o brilho fez-se outra vez opaco
O encanto já não a habitava
As noites fizeram-se mais escuras
Por agonia da pobre Lua apaixonada

Astro Rei deu seu melhor nos dias
Iluminou a beleza infinita da Terra
Quis encher de alegria o coração da amada
Com a força da brilhante luz dourada

E a Lua, que por vezes se faz cheia
Porque o impossível é possível na esperança
Outras vezes mingua no céu da desesperança
Pois não há sonho que nos baste eternamente

E é por isso, por estar enamorada
Que Mãe Lua é guardiã dos corações apaixonados
Dá-lhes seu brilho, enche-lhes os olhos de beleza
Não se supõe que ela esconde tal tristeza

E Astro Rei que brilha imponente
É sinal de esperança aos que padecem
De amor, sentimento belo e ardente
Mas que por vezes enchem o coração de dor

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Canto à Deusa Mãe

Que alegria sentir-me envolvida por teu amor
Ao banhar-me na fresca água de um riacho
Que alegria sentir teu estreito abraço
Ao deitar-me sobre a relva do verde gramado

Que amparo é ouvir tua voz, Ó Mãe
Através do ruído harmônico do vento
E sentir-me por ti tocada a cada momento
Em que meu rosto percebe a brisa serena

Brancas flores, verdes campos
O azul tão vivo do céu
O brilho tão vivaz do sol
O mistério prateado da lua

Revelas-te toda em beleza
Mostras-te mãe afetuosa
E por muito tempo não te tinha percebido
Enquanto estavas ao alcance de um olhar

Nada pode haver de mais sublime
E nada se revela mais divino
Que poder acordar a cada dia
E sentir-se parte de tão grande harmonia

Anjo

Anjo guardião da noite escura
Não me atrevo a tentar
Pôr em meus versos mais beleza
Do que encontro em teu olhar

E não há nenhum poema
Que encante mais que o teu riso
Tão tímido e tão intenso
Tão ínfimo e tão imenso

Tampouco existe uma canção
Que soe mais doce ao meu ouvido
Que esse teu falar manso e melódico
Capaz de levar-me em vida ao paraiso

Não há sensação equiparável
A de sentir o teu abraço apertado
A de provar o sabor dos teus beijos
E sentir-te em meus braços tão estreito

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A Flor e o Passarinho

Descansa, após o vôo, em minhas pétalas macias
Suga-me o doce néctar de que precisas
Envolve-me em tuas asas, passarinho
Ainda que, por vezes, eu te fira com espinhos

Faz vibrar em mim este teu canto
Que é tão alegre e tão bonito
Enche-me os olhos com teu belo colorido
Aquece com teu corpo o frio de minhas pétalas

Faz-me esquecer por um instante a dor
De seres tu um passarinho, e eu uma flor
Tu és a lua no céu, eu sou a estrela-do-mar
És o raio do sol, eu sou o gelo polar

Quem És Tu

Quem és tu, que me fizeste perder a prudência do medo
Quem és tu, doce sonho e persistente pesadelo
E o que desejas deste pobre coração de poetisa
Que já traz em si, sangrando, tantas feridas

Quem és tu, que me levaste o medo de amar
Quem és tu, que me fizeste voltar a sonhar
Mas me deste o medo de outra vez cair
O pesadelo de um dia despertar sem ti

Quem és, anjo das noites de escuridão
Que trazes lume para guiar meu coração
Trazes os perfumes e os sabores do amor
Trazes certezas tão incertas quanto o amanhã

Eu que outrora fui prudente e racional
Eu que não me permiti guiar por ilusões
Entrego-me aos teus mistérios indecifráveis
Espectadora inativa de meu próprio destino

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Eu

Eu que busquei o amor onde ele não andava
Eu que tropecei nas muitas pedras do caminho
Eu que vi meu coração ferido por espinhos
E vi minha vida escorrer por entre os dedos

Eu que, desiludida, maldisse o amor
Eu que, quase sem forças, atirei-me ao chão
Eu que enrijeci o coração e em nada via encanto
Eu que já não podia entoar meu canto

Eu que descri na verdade de um olhar apaixonado
Eu que destruí a inocência em minha alma
Eu que feri a quem me amou e fui ferida
Eu que andei pela estrada distraída

Redescobri, em um sorriso, a vida
Como a fênix das cinzas renascida
E eu que antes não havia percebido
Que mais se ganha ao perder o sentido
Desfruto agora do prazer de um novo amor

Abraça-me

Abraça-me
Em teus braços eu me sinto protegida
Em teus braços já não doem as feridas
Que trago abertas em meu peito

Abraça-me
Em teus braços já não há mais frio
Não há medos, nem perspectivas
Porque não há passado, nem há futuro

Abraça-me
Sente em teu corpo o meu pulso de mulher
Sente meu sangue, como corre impaciente
Sente o calor de minhas mãos em tua pele

E beija-me
Uma vez como se fosse a última
De uma maneira intensa e única
Com doçura e com voracidade

Se Não Me Amas

Se não me amas, poeta, não me faças tua
Não construas nosso leito à luz da lua
Não recostes meu corpo ainda inocente
Nos teus braços de amante experiente

Se não me amas, poeta, não me faças versos
Pois versos enchem o coração de chamas
Que consomem a alma e a razão
Faz-nos cegos perdidos na escuridão

Mas se me amas, poeta, toma-me
Embriaga-te com o licor dos meus beijos
Sacia por completo os teus e os meus desejos
E por toda a eternidade serei tua

O Último Suspiro

Se meu último suspiro ressonar em teus ouvidos
Se meu último olhar calar fundo em tua alma
Se teus lábios me recolherem o último beijo
Se com gracejos me arrancares o derradeiro riso
O último momento não será tão difícil
E viver terá valido a pena

Se tuas mãos segurarem as minhas gélidas
Se meu corpo trêmulo repousar em teu regaço
Se forem teus olhos a enxergarem a palidez da minha tez
Se em teu rosto eu vir rolar a última lágrima
O último momento não será tão difícil
E viver terá valido a pena

Se lamentares, se sofreres comigo no final
Se suspirares, pedindo aos céus que não me levem
Se te agarrares a mim buscando segurar minh'alma
Se provares, por amor, do veneno da dor
O último momento será apenas o último
De uma vida que terá valido a pena

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Teus Olhos

Teus olhos
Mergulho no mistério
Prazer efêmero
Luminosos como o sol
Sombrios como a noite escura
Atração arrebatadora
Que faz perder-se o mais prudente
Magia assustadora
De lançar-se ao que não se conhece
Melancolia sedutora
Que me leva ao desvario

Ah, teus olhos
Se eu pudesse entender
O que guardam em seu íntimo
Se não fossem assim tão ínfimos
Os momentos em que me fixam
Com o desejo mais carnal
E o amor mais virginal...

A Partida

Vai-se por entre as montanhas
E leva-me o que ainda restou
Do frágil e tenro fio de vida
Termina com as esperanças minhas

Cruza rios, contorna abismos
Afogo-me em lágrimas amargas
Um salto no medonho desconhecido
Com meu corpo já desfalecido
Sedento do amor com que contava

Mas tu, amado meu, não respondias
Aos chamados daquela que te amava
Teus olhos melancólicos jamais viam
Os lábios que, baixinho, te chamavam

Partes do entorno de mim
Partes o que resta de mim
Sem qualquer esperança que acalente
Exprimo minha dor em uivos
Desesperados à luz da lua
Chorando aquela dor que me consome
De jamais poder ter sido tua